Maratona no Litoral
Hoje, Domingo, corri os “10 Kms a Tribuna”.
Em Santos, o começo da manhã estava bem nublado, mas as horas da prova foram chegando e o sol apareceu intenso, implacável!
Cheguei no local da prova, passei por baias feitas de grades metálicas, conferiram meu chip de contagem, meu numero de participação na camisa e entrei.
A sensação, no meio do povo rindo, gritando, cantando, após passar por um “curral”, era de aguardar o estouro de uma boiada... imaginei um touro sossegado, sozinho num pasto, que de repente é colocado numa barulhenta arena de tourada ou solto pra correr entre multidões nas ruas da Espanha. Chega a ser assustador. Mas logo abstraí esse sentimento de solidão, no meio da multidão, e voltei a curtir as 15.000 pessoas empolgadas querendo atingir o final de uma prova.
Não consegui me preparar como planejado, mas mantive o objetivo de vir e de fazer um bom tempo.
Balões coloridos soltos no ar marcaram, ao longe, a saída da prova. A gritaria foi geral.
Preparei no meu Ipod uma seleção de musicas pro evento... ao passar na linha de largada, me acompanhou o tema de Star Wars.... no primeiro Km passamos por um comprido túnel às escuras. Em certos pontos haviam holofotes coloridos que dançavam nas paredes... isso com o tema de Guerra nas Estrelas me fazia sentir o próprio Luke Skywalker, nos labirintos da Estrela da Morte, pilotando a espaçonave! "Luke, que a Força esteja com você!"
Resolvi acompanhar um senhor careca, oriental... bem, já que não treinei, um senhor posso acompanhar, né? Após um tempo, ele ficou bem na minha frente, e percebi que a batata da perna desse oriental era duas vezes a minha! Ele era corredor profissional!!!!! Deixei-o se afastar aos poucos.
Calculei 6 minutos por Km, olhei no pulso, já ia pra 13 min. e não havia passado nenhuma marcação de kilometragem... Nem cheguei no primeiro? Desanimei um pouco, mas logo vi a placa de 2 kms, eu estava na programação prevista!
Haviam batalhões uniformizados de academias e escolas... difícil passá-los, e cada refrão que cantavam, debaixo daquele sol, eu ria:... “Preferia estar agora... na sombra de um barzinho... tomando uma Coca-Cola... ou bebendo um chopinho!” Daí vinha outra: “Vamos lá devagarinho... é corrida pra neném... nesse passo bem mansinho... ‘vamu’ até Itanhaém!”
E eu ia á frente deles, acompanhando o ritmo apertado, escutando uma seleção de flauta Shakuhachi no Ipod. As pessoas nas ruas faziam festa, nos empolgavam, cumprimentavam...
Ao chegar aos 5 Kms, já chegavam sintomas do cansaço... mas pra essa hora havia programado uma musica especial do Bob McFerrin: Don’t worry, be happy.
E mais flauta japonesa seguiu.
Após os postos de hidratação, as personalidades se revelavam: os conscienciosos jogavam seus copos de água vazios junto ao meio fio, os desrespeitosos os deixavam no meio da via, alheios aos que viriam a poder escorregar neles.
Cheguei na placa “8 Kms” dos 10... já com as forças se esgotando... um piadista me tira risadas quando diz: ‘Olha pessoal, só faltam 8 Kms!!!’
Nessa hora começa no Ipod a música tema do Conan... mais adrenalina disponível. òtima seleção musical fiz!
Chego aos 9 kms, a flauta Zen dá lugar ao tema de Rocky o lutador... as pessoas gritam, Rocky Balboa corre comigo, eu levanto os braços. Eu subo a escadaria do Museu de Arte da Filadélfia junto com Stallone... a emoção cresce, o cansaço dá lugar ao sentimento de felicidade, de missão cumprida, mal percebo a linha de chegada se aproximando... passo a chegada entre a multidão excitada e continuo mais um pouco, esqueço de desligar o cronometro... nem me importo com o tempo.
Um corredor é carregado numa maca, chegou, mas o coração não acompanhou, médicos o socorrem. Lembro dos índios americanos, que após uma corrida param e sentam, "até a alma alcançá-los de novo". Me chateio por ele, em mim, a empatia com a dificuldade do outro... mas minha sensação de prazer continua sem perturbar-se.
A dor vai aparecer de noite, amanhã.... Não dou muita importância. Cheguei inteiro, posso pensar nos 25 Kms agora... veremos, veremos...
Volto ao prédio, os porteiros me cumprimentam, vêem a medalha de participação, o número na camiseta, a pergunta inevitável (e sem sentido, para mim) surge:
- E aí? Qual sua colocação?
- Oras.... cheguei em segundo lugar! Vocês sabem... tem sempre um Kenyano na frente!
- E aí? Qual sua colocação?
- Oras.... cheguei em segundo lugar! Vocês sabem... tem sempre um Kenyano na frente!
:)