Exploring the Infinite

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Local: SP, SP, Brazil

Segredar... é gestar possibilidades!

18.5.09

Maratona no Litoral



Hoje, Domingo, corri os “10 Kms a Tribuna”.

Em Santos, o começo da manhã estava bem nublado, mas as horas da prova foram chegando e o sol apareceu intenso, implacável!

Cheguei no local da prova, passei por baias feitas de grades metálicas, conferiram meu chip de contagem, meu numero de participação na camisa e entrei.

A sensação, no meio do povo rindo, gritando, cantando, após passar por um “curral”, era de aguardar o estouro de uma boiada... imaginei um touro sossegado, sozinho num pasto, que de repente é colocado numa barulhenta arena de tourada ou solto pra correr entre multidões nas ruas da Espanha. Chega a ser assustador. Mas logo abstraí esse sentimento de solidão, no meio da multidão, e voltei a curtir as 15.000 pessoas empolgadas querendo atingir o final de uma prova.

Não consegui me preparar como planejado, mas mantive o objetivo de vir e de fazer um bom tempo.

Balões coloridos soltos no ar marcaram, ao longe, a saída da prova. A gritaria foi geral.

Preparei no meu Ipod uma seleção de musicas pro evento... ao passar na linha de largada, me acompanhou o tema de Star Wars.... no primeiro Km passamos por um comprido túnel às escuras. Em certos pontos haviam holofotes coloridos que dançavam nas paredes... isso com o tema de Guerra nas Estrelas me fazia sentir o próprio Luke Skywalker, nos labirintos da Estrela da Morte, pilotando a espaçonave! "Luke, que a Força esteja com você!"

Resolvi acompanhar um senhor careca, oriental... bem, já que não treinei, um senhor posso acompanhar, né? Após um tempo, ele ficou bem na minha frente, e percebi que a batata da perna desse oriental era duas vezes a minha! Ele era corredor profissional!!!!! Deixei-o se afastar aos poucos.

Calculei 6 minutos por Km, olhei no pulso, já ia pra 13 min. e não havia passado nenhuma marcação de kilometragem... Nem cheguei no primeiro? Desanimei um pouco, mas logo vi a placa de 2 kms, eu estava na programação prevista!

Haviam batalhões uniformizados de academias e escolas... difícil passá-los, e cada refrão que cantavam, debaixo daquele sol, eu ria:... “Preferia estar agora... na sombra de um barzinho... tomando uma Coca-Cola... ou bebendo um chopinho!” Daí vinha outra: “Vamos lá devagarinho... é corrida pra neném... nesse passo bem mansinho... ‘vamu’ até Itanhaém!”

E eu ia á frente deles, acompanhando o ritmo apertado, escutando uma seleção de flauta Shakuhachi no Ipod. As pessoas nas ruas faziam festa, nos empolgavam, cumprimentavam...

Ao chegar aos 5 Kms, já chegavam sintomas do cansaço... mas pra essa hora havia programado uma musica especial do Bob McFerrin: Don’t worry, be happy.

E mais flauta japonesa seguiu.

Após os postos de hidratação, as personalidades se revelavam: os conscienciosos jogavam seus copos de água vazios junto ao meio fio, os desrespeitosos os deixavam no meio da via, alheios aos que viriam a poder escorregar neles.

Cheguei na placa “8 Kms” dos 10... já com as forças se esgotando... um piadista me tira risadas quando diz: ‘Olha pessoal, só faltam 8 Kms!!!’
Nessa hora começa no Ipod a música tema do Conan... mais adrenalina disponível. òtima seleção musical fiz!

Chego aos 9 kms, a flauta Zen dá lugar ao tema de Rocky o lutador... as pessoas gritam, Rocky Balboa corre comigo, eu levanto os braços. Eu subo a escadaria do Museu de Arte da Filadélfia junto com Stallone... a emoção cresce, o cansaço dá lugar ao sentimento de felicidade, de missão cumprida, mal percebo a linha de chegada se aproximando... passo a chegada entre a multidão excitada e continuo mais um pouco, esqueço de desligar o cronometro... nem me importo com o tempo.

Um corredor é carregado numa maca, chegou, mas o coração não acompanhou, médicos o socorrem. Lembro dos índios americanos, que após uma corrida param e sentam, "até a alma alcançá-los de novo". Me chateio por ele, em mim, a empatia com a dificuldade do outro... mas minha sensação de prazer continua sem perturbar-se.

A dor vai aparecer de noite, amanhã.... Não dou muita importância. Cheguei inteiro, posso pensar nos 25 Kms agora... veremos, veremos...


Volto ao prédio, os porteiros me cumprimentam, vêem a medalha de participação, o número na camiseta, a pergunta inevitável (e sem sentido, para mim) surge:
- E aí? Qual sua colocação?
- Oras.... cheguei em segundo lugar! Vocês sabem... tem sempre um Kenyano na frente!

:)

10.5.09

Shakuhachi

Escala Pentatonica... 5 notas apenas.
Cinco notas, cinco elementos, cinco processos taoístas... faz todo o sentido.

Shakuhachi...



Aquela foi minha primeira aula, meu primeiro contato com essa misteriosa flauta japonesa.

"O som da água diz o que penso." Chaung-Tzu

Me aproximei desse estranho instrumento com uma reverência sobrenatural. Senti a presença dos monges samurais, seus chapéus de palha indicando serem peregrinos Zen-Budistas, os criadores da flauta Shakuhachi.
As primeiras músicas, feitas para meditação...


Havia a também a aura dos artesãos que manipulavam o bambu, sabiam a lua correta do corte, da forma de transformá-lo em flauta...

Que flauta estranha, não tem bocal, embocadura... seus lábios são a embocadura.


E que difícil é ser a flauta! Um oco, um bambú oco com furos.
E como ser o vazio e dele materializar o som?
Na flauta doce, nas flautas ocidentais, há o bocal, a palheta... assopra-se e sai o som. Mas na Shakuhachi...
Peguei a flauta, descobri como segurá-la. Soprei... nada. Soprei de formas diferentes... nada. Nenhum som.
Como podia ser?
Quanto mais assoprava... mais sem fôlego ficava.
Tentava e tentava formas diferentes de soprar, de colocar os lábios... só a tontura de ficar sem fôlego.
E uma nuvem de frustração e desânimo descia, fazia quase uma hora e nenhum som...
Quando pensei ser, era algo gutural, da garganta e não da flauta... meu inconsciente trapaceava!
...
Resolvi esquecer, descansei a flauta, mas a mantive em contato com os lábios... expirei, e... um som!
Ao relaxar e esquecer... saiu um som!!!!
Toquei!!!!!!
Ou melhor... a flauta se tocou!
Quando não toquei a flauta, ela se tocou através de mim!
Sentei com as costas eretas e pés aterrados... me relaxava o som saia, queria tocar e a música sumia!
Wei wu wei... o "agir sem agir" Zen na prática.

"O princípio do Tao é o que acontece por sí mesmo." Lao-Tzu

Aprendi a tocar sem tocar.
A ser a música sem o músico.
O Tao é aquilo que não se pode desviar.
Aquilo do que se pode desviar não é o Tao.

Wu Wei é o agir sem compulsão, não confundir com preguiça, passividade ou inércia. Uma sabedoria superior da natureza e dos atos humanos em utilizar o mínimo de energia para ocupar-se deles.
O uso da energia no momento e local certo.

Adquiri uma Shakuhachi... hoje a toco sempre que me chama... bem, me permito ela ser tocada.
Ela faz a música, eu sou o catalizador.
E vamos caminhando... o Caminho, o Tao, se faz a cada passo.

- Como se entra no Tao, Mestre?
- Ouves o rumor deste rio?
- É claro!
- É a porta.
...

5.5.09

Tempestade

Ontem a manhã estava excessivamente quente. Nas ruas as pessoas passeavam despreocupadas.

De tarde o tempo começou a esfriar e em poucas horas o céu se fechou numa escuridão que lembrava os dias de eclipses da minha infância. Silenciei e parei. Sem caneta nas mãos e pensamentos na alma, observei, escutei, senti, cheirei o ar...



Pela janela do escritório podia ver o mar encapelado, o céu plúmbeo e a neblina de chuva, que encobria em sombras o campanário da antiga igreja. O vento gemia segredos. As folhas não sussurravam como hoje, mas gritavam agitadas. Minha percepção cativa entregava-se num abandono assíduo aos esforços da Natureza. A grandeza nos saudava, sem querer nos servir. Assim como Deus, pensava eu.

Um silêncio imperou fora e dentro.

Como são belos e fortes os ritmos climáticos! Em instantes a tempestade de granizos se desfez e o sol apareceu.


Na volta pra casa os sinais de sua passagem estavam visíveis, como árvores e enormes galhos caídos sobre ruas e calçadas, telhas arrancadas, ruas alagadas, lama, cheiro de grama molhada... pessoas tensas, curiosas e de passos cuidadosos.

A Natureza a si basta, nada deseja, salvo o orgulho de deixar claro que acima da Verdade e da Ciência estão os Deuses, e que a Ciência deveria se curvar ao mistério delicado das flores.
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