Minha foto
Nome:
Local: SP, SP, Brazil

Segredar... é gestar possibilidades!

10.5.09

Shakuhachi

Escala Pentatonica... 5 notas apenas.
Cinco notas, cinco elementos, cinco processos taoístas... faz todo o sentido.

Shakuhachi...



Aquela foi minha primeira aula, meu primeiro contato com essa misteriosa flauta japonesa.

"O som da água diz o que penso." Chaung-Tzu

Me aproximei desse estranho instrumento com uma reverência sobrenatural. Senti a presença dos monges samurais, seus chapéus de palha indicando serem peregrinos Zen-Budistas, os criadores da flauta Shakuhachi.
As primeiras músicas, feitas para meditação...


Havia a também a aura dos artesãos que manipulavam o bambu, sabiam a lua correta do corte, da forma de transformá-lo em flauta...

Que flauta estranha, não tem bocal, embocadura... seus lábios são a embocadura.


E que difícil é ser a flauta! Um oco, um bambú oco com furos.
E como ser o vazio e dele materializar o som?
Na flauta doce, nas flautas ocidentais, há o bocal, a palheta... assopra-se e sai o som. Mas na Shakuhachi...
Peguei a flauta, descobri como segurá-la. Soprei... nada. Soprei de formas diferentes... nada. Nenhum som.
Como podia ser?
Quanto mais assoprava... mais sem fôlego ficava.
Tentava e tentava formas diferentes de soprar, de colocar os lábios... só a tontura de ficar sem fôlego.
E uma nuvem de frustração e desânimo descia, fazia quase uma hora e nenhum som...
Quando pensei ser, era algo gutural, da garganta e não da flauta... meu inconsciente trapaceava!
...
Resolvi esquecer, descansei a flauta, mas a mantive em contato com os lábios... expirei, e... um som!
Ao relaxar e esquecer... saiu um som!!!!
Toquei!!!!!!
Ou melhor... a flauta se tocou!
Quando não toquei a flauta, ela se tocou através de mim!
Sentei com as costas eretas e pés aterrados... me relaxava o som saia, queria tocar e a música sumia!
Wei wu wei... o "agir sem agir" Zen na prática.

"O princípio do Tao é o que acontece por sí mesmo." Lao-Tzu

Aprendi a tocar sem tocar.
A ser a música sem o músico.
O Tao é aquilo que não se pode desviar.
Aquilo do que se pode desviar não é o Tao.

Wu Wei é o agir sem compulsão, não confundir com preguiça, passividade ou inércia. Uma sabedoria superior da natureza e dos atos humanos em utilizar o mínimo de energia para ocupar-se deles.
O uso da energia no momento e local certo.

Adquiri uma Shakuhachi... hoje a toco sempre que me chama... bem, me permito ela ser tocada.
Ela faz a música, eu sou o catalizador.
E vamos caminhando... o Caminho, o Tao, se faz a cada passo.

- Como se entra no Tao, Mestre?
- Ouves o rumor deste rio?
- É claro!
- É a porta.
...

4 Comments:

Blogger Christiane Forcinito Ashlay Silva de Oliveira said...

Betto

Interessante!

Quando ouvi seu som pela primeira vez gostei pois lembro que me "comovi muito" a ponto de encher meus olhos de lágrimas...

Depois ouvindo durante algum tempo, lembro que no recital (amo recitais) eu me deixo levar... Percebi que o som me levava para uma espécie de "disciplina espiritual" e isso de alguma forma me fazia lembrar uma espécie de "treino" mas sem aquela "obrigação imposta" onde a perfeição e equilíbrio é inato e natural dentro da práxis de uma pessoa constante no seu caminhar, compreende?

Eu não conheço muito sobre a cultura japonesa. Temos amigos japoneses e minha filha estuda em um colégio de cultura japoneza justamente porque gostamos muito do "espírito oriental e bem como a educação que visa o desenvolver global corpo, mente e espírito dentro de um equilíbrio com disciplina, método, constância e honra."

Diante isso faz já uns 7 anos que temos contato com a cultura japoneza e algumas peculiaridades e foi onde conheci o Shakuhachi.
Você toca? Puxa que legal...

Abraço.

Chris :)

segunda-feira, 11 maio, 2009  
Blogger Lilly said...

Oi querido!
realmentefui testemunha da dificuldade de tirar som desse instrumento, soprava, soprava e só ficava roxa! Lembro-me que nas aulas de flauta no colégio a professora D. Aurélia, que por associação chamávamos de D. Orelha, ela dava relaxamento facial, especialmente mandibular e nos lábios antes de tocarmos.
Também não manjo muito de cultura nipônica, mas associei a "Arte Cavalheresca do Arqueiro Zen", uma linda metáfora que diz isso. Quanto mais tensão para se atingir o alvo, mais impossível fica. E quando executa-se a ação sem a tensão, o sucesso é consequentemente atingido... Muito bacana, pois fazendo um mix de oriente e ocidente, temos: é importante termos objetivos, desde que o busquemos no amor e sem tensão! Gostei.Treine bastante!
Uma dica: desencane deentender a escala, pois é pura teoria e concentre-se nas posições e qualidade do sopro. Isso é o que vai distrair você e os outros. Temos que objetivar otempo de estudo, senão, nos transformamos numa enciclopédia e sem ação... Viva o Zen!
Um comentário maldoso: na foto da fileira dos flautistas no campo... Já pensou se primeiro leva um tropeção? rsrsrssr... Não é fácil tocar, andando num mato tão alto e com a cesta-burca na cabeça ao mesmo tempo! rsrsrs... Queria ver esse show a parte! Beijos, Lilly

terça-feira, 12 maio, 2009  
Blogger Rieko Kishi said...

Enzo,
Vc conseguiu tocar! Vc toca!
Que maravilha!
É mistério, é um enigma, é o som do silêncio!!! É o comunicado do vazio, do KUU.
Qdo ouço o chakuhati, algo acontece comigo. Lá no limiar do nada e do consciente. Lá onde nos não vemos no dia a dia. O silencio se faz palavra.
Vc tem o privilégio de tocar, alías deixar ser tocado por este instrumento místico! Ter esse momentos de comunicação com o mais remoto das existências, ou melhor da não existência!!!
Parabéns

Bjs
Rieko

terça-feira, 12 maio, 2009  
Blogger Rieko Kishi said...

Enzo,
Uma dúvida me ocorreu, de novo.
Como pode ser samurai e monge Zen Budista ao mesmo tempo?
É uma pergunta antiga não?

Bjs
Rieko

quarta-feira, 13 maio, 2009  

Postar um comentário

<< Home


contador