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Segredar... é gestar possibilidades!

19.4.09

TUDO CULPA ...

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Tenho feito um curso de Casa Saudável, Ecologicamente correta, econômica e sustentável.

Entre os vários tópicos, desde tintas naturais, Biomimética, Arquitetura orgânica, Permacultura, falávamos de materiais naturais para construção. Estávamos conversando sobre estruturas de bambu e suas formas de preparo...



Um dos colegas levantou a mão interrompendo a exposição do professor, era um sujeito alto, barbudo, de voz grossa, pediu a palavra... Daí desabafou com o grupo:

- Sou Arquiteto, sempre estudei a Arquitetura voltada à ecologia e seus materiais naturais, sou casado e comprei um terreno para eu construir meu sonho: uma vida simples, uma casa toda feita com materiais orgânicos: taipa de pilão, adobe e bambu..., entretanto, estou tendo um grande desentendimento com minha mulher, que diz que não vai viver numa casa se ela não for de tijolos....

(fez-se um silêncio na sala, enquanto ele rearranjava seus pensamentos... quando saiu o resumo de forma magoada: )

- TUDO CULPA DOS TRÊS PORQUINHOS!!!!

E a sala de aula se acabou em risadas!!!!





....

Uma vida simples... de certo modo isso nos remete aos cabeludos hippies dos anos 70, vivendo de forma auto-sustentável, sem consumo, ignorando os meios de comunicação, com a pobreza voluntária dos que largaram o sistema...

Sendo assim, cumpre repensar o que a vida simples NÃO É:

- não é pobreza e nem carência... escolher entre contas pra pagar e se preocupar quando sairá do vermelho não simplificam a vida de ninguém.

- não é sujeira ou desmazelo... ao contrário, simplicidade é o minimalismo, o clean, a ordem da arrumação do pouco, mas profundo. Nem é obsessão por limpeza... limpar o suficiente e adequado.

- não é a negação de si mesmo... é a indulgência com suas necessidades e sonhos que torna a vida agradavelmente simples.

- não é obrigatóriamente a volta ao campo... se esse não é seu estilo de vida, o meio rural lhe trará mais problemas do que os que tinha na cidade.

- não é morrer de tédio... o consumo desenfreado, a angústia pelas novas fofocas ou novelas e atividades incessantes, tem como alternativa simplesmente se estar pleno de atenção em cada pequena ação que se faz.

- não é abrir mão do que se precisa... mas ter aquilo que precisa e saber onde encontrá-lo.

Então o que É a simplicidade?

- é discernir o essencial do não-essencial... perceber que, por mais ofertas de coisas que existam e por mais tentadora a propaganda que tenta lhe criar necessidades antes inexistentes, são poucas as coisas necessarias à sua saúde, sobrevivência e bem-estar espiritual.

- é ter sempre espaço para o inesperado... o excesso de programação engessa a vida: um desafio imprevisto ou uma benção súbita devem sempre poder ser incorporados sem muita dificuldade.

- é usufruir do pouco... significa ter um almoço memorável na casa de um amigo, pois não tentou tomar café com outro ou programou jantar com um terceiro... é se encantar com um vaso de cerâmica, que está na sua sala, toda vez que o vê, em vez dele ficar perdido no meio de uma coleção de vasos que vc possui, mas nunca olha...





- é liberdade... é escolha, é não deixar entrar tudo que aparece, não atender sempre o telefone, só porque toca, é não ter mais compromissos do que pode suportar, ou mais objetos do que pode usar ou manter.

Fácil falar, eu mesmo ainda estou no processo...

E... ainda vivo na casa do terceiro porquinho...



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7 Comments:

Blogger Christiane Forcinito Ashlay Silva de Oliveira said...

Betto

Sempre achamos que precisamos muito mais do que realmente precisamos... Quando nos demos conta disso a sensação de liberdade é tão grande que não haverá mais nada que nos impeça neste mundo de "ser"...

Amei a charge... kkkkkk... E seu texto está excelente como sempre...

Sobre a questão da ecologia todos temos muito a aprender e que bom que podemos aprender...

Quanto aos 3 porquinhos é triste ver o quanto o mundo e algumas pessoas estão presas dentro de algo, conceitos, paradigmas que nunca lhes darão a felicidade verdadeira que tanto procuram...

E...Acabam se iludindo com o falso brilho, com a falsa insegurança, enfim... vem o banco e cobre a hipoteca, ou vem a morte e cobra a sua vida...

Chris :)

segunda-feira, 20 abril, 2009  
Blogger Rieko Kishi said...

É difícil saber o q é essencial, o q é necessário, o q é simplicidade. Estamos todos em processo. De aprendizagem, de educação. Temos todos q reaprender a ser em todo sentido. Ensinar aos nossos filhos, mas o q ensinar se nós mesmos não sabemos. Outro dia quis falar sobre o meio ambiente e fiquei pasma, por q percebi que não tinha o q falar, senão de nós mesmos, do ser humano. Onde começa toda a discussão. Entendo a sua posição como arquiteto e entendo a sua colocação, sua preocupação em relação ao equilíbrio. Mas aí tudo volta ao ser humano, seu equilíbrio.
Porque não começar por GI HI, compaixão?

Rieko

segunda-feira, 20 abril, 2009  
Blogger Betto Enso said...

Rieko..

JIHI
Sim, é um todo que se reflete em suas partes.
A busca pela integridade cria isso, são apenas prismas de um cristal maior.
Já diz o Budismo: o racional é apenas nossa forma de expor nossa ilusão de separação.
Como falar de meio ambiente, sem falar de nós mesmos?
E o equilíbrio é dinâmico, como no andar... desequilibramos para um lado, equilibramos, desequilibramos para o outro... um processo.

Chris,
Os conceitos aprisionam sempre q os integramos em nossa personalidade através de uma chave disparadora emocional... e as histórias infantis fazem sempre isso. Porisso precisamos de bons Contadores de Histórias, hoje substituidos pela Televisão, com conteudos que não temos controle.
Perigoso, não?
Após uma sessão de meia hora de desenhos foi perguntado às crianças, uma a uma, quem era o herói de cada desenho. Quase com unanimidade o Pica-pau foi apontado como o herói, infelizmente, nos desenhos mostrados, ele era sempre o malandro, o aproveitador, o vilão, mas pra elas...
Assim se criam os mal-entendidos... se uma falsidade é repetida mil vezes, vira uma verdade?
...

terça-feira, 21 abril, 2009  
Blogger Rieko Kishi said...

Betto
Eu outro dia assisti a um documentário q se chama "Pátria Proibida", em orignal em inglês é "Deus desistiu de nós". É um documentário sobre a África. Guerra civil no Sudão em 1987, e suas consequencias trágicas. Quase nada sabemos de África, as suas guerras internas, suas vítimas, suas histórias. Fala-se muito sobre o Oriente médio, suas guerras, mas a África é como se não existisse no mundo, ela faz parte do nosso mundo. Fiquei tão chocada q não consegui dormir, e acordei como se ainda flutuando no ar. As cenas, suas trágicas histórias, suas personagens não me saia da cabeça por alguns dias. Eu fiquei questionando tempo todo se o Deus não teria sim desistido de países "civilizados" como EUA, onde as pessoas são solitárias, onde as pessoas não se preocupam uns com osoutros, e não na África onde as pessoas ainda são humanas, um é amigo do outro, um quer ajudar o outro. A humanidade existe ainda nestes lugares tão tragicamente tratadas pelo destino.
As pessoas tão castigadas ainda pensa na pátria, para ajudar, p levar um pouco de conforto...
Buda diz q todo ser humano é Buda.
No momento q vejo uma cena como esse eu penso q é verdade. Nós somos Buda sim.
Vc disse do Pica pau. Tem uma história q diz q numa praça, uma determinada pessoa olha p cima, outro segue o exemplo, depois de certo tempo maioria das pessoas estão todos olhando p cima. Isso pode acontecer de forma positiva...

Bjs
Rieko

quarta-feira, 22 abril, 2009  
Blogger Lilly said...

É isso mesmo, um processo de aprendizagem, onde o puco é muito, é essencial!
Amei! Você viu que esse comentário de seu colega também me levou a escrever...
O mais legal é aprender o que o viver simples não é... Nem sujeira, nem baderna, nem pourra-louquice, com o perdão do termo... Legal!
Mas a charge é o máximo!!! rsrsrs... Beijos, Lilly

quinta-feira, 23 abril, 2009  
Blogger Rieko Kishi said...

É Lily, será q a cultura dos três porquinhos nos levou a tudo q nos vivemos hoje? Pobre tres porquinhos eles apenas queriam um pouco de segurança e conforto, e no que deu. Um país dos obesos e de escessos. Tststs.
bjs Rieko

sexta-feira, 24 abril, 2009  
Blogger Betto Enso said...

"qual é a encrenca ecológica dos tijolos?" Lilly perguntou...

bem, por alto, o tijolo demanda um grande gasto com transporte e na imensa maioria das vezes, os fornos que queimam os tijolos se utilizam de madeira extraida ilegalmente da mata atlântica ou de áreas protegidas, mas o maior
problema da construção com tijolos vem do cimento. para fazer 1 kg de cimento se joga na atmosfera o mesmo 1 kg de poluentes, o cimento precisa de 10 minerais, o que significa 10 jazidas sendo devastadas, alto custo de transporte, sem nem falar do desperdício de 30 a 40% dos materiais de construção devido à ignorância e péssima qualidade de
nossa mão de obra. Numa demolição de uma casa, o entulho raramente é reciclado, coisa que ocorre com facilidade nas casas de materiais naturais.

O custo baixo do cimento é devido à jazidas ilegais, mão de obra semi-escrava na extração e ignorar o custo ambiental de sua fabricação.

Uma casa feita com bambus, ou taipa de pilão, ou tijolos de adobe, vc praticamente não tem custo de trasporte, vem do próprio local. Todos materiais renováveis e recicláveis. A argila do adobe ou da taipa possui melhores qualidades térmicas de isolamento, além de respirar num ciclo de absorver umidade e secar, coisa que não acontece com o tijolo...
e a tinta que utilizamos, que impermeabiliza a parede para nunca respirar, cria bolor e estraga a casa... e nossa saúde.

Imagine que a tinta é a pele. Se sua pele não respira, não troca umidade, não tem vida... como será sua saúde?


O Museu do Ipiranga foi feito com materiais naturais, tintas naturais, suas paredes respiravam. Um burrocrata desavisado em patrimônio histórico resolveu repintar internamente o museum, e em vez de seguir os ditames de preservação histórica e fazer a tinta conforme a de época, resolveu pela tinta acrílica. Em poucos meses, devido a falta de respiração das paredes (agora impermeáveis) a coleção do museu começou a embolorar e estragar. Estão tentando resolver isso até
hoje.

E por aí vai...

domingo, 26 abril, 2009  

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