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Segredar... é gestar possibilidades!

4.12.08


Por uma estética DOWN.


Li sobre um amigo que tem um filho Down, tenho uma amiga com filhas com deficiência cognitiva de aprendizado... seus sentimentos me fizeram refletir num novo Paradigma.

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Sou Arquiteto, e filosófo pela Estética em primeiro lugar.

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Nós, gerados num mundo Ocidental, sob a esfinge de Super-Heróis e Heroínas de corpos perfeitos e QI altíssimos, esperamos nada menos do que a perfeição.

A perfeição nossa, a perfeição do outro...

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O ideal de Beleza Clássico Grego, de perfeição, nos engessa na juventude eterna, nos músculos hipertrofiados, na Filosofia lógica e linear.

É uma forma de Beleza agradável, mas que limita uma natureza riquíssima numa de pouca variação e em fase temporária (os jovens), e descarta tudo cuja idéia de perfeição não se enquadre.

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Do Japão, há muitos anos, tenho tirado meu senso Estético.


Wabi-SABI (侘 寂) representa uma abrangente visão japonêsa do mundo estético centrado sobre a aceitação do imperfeito, do incompleto e da transitoriedade.


Aplicado em diversas manifestação culturais e "Caminhos" (Do - Tao), como Ikebana, Bonsai, Haiku, Shodo, ... ele revela o detalhe da imperfeição, do desequilíbrio, na forma mais perfeita e natural.

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Entender que a beleza do mundo está na sua diversidade, em suas imperfeições, em sua não-linearidade, é fácil. O desafio é tentar reproduzir essa característica, conscientemente, em nossas manifestações.

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O grande mestre do Chado, a cerimônia do chá, Sen no Rikyu, quando era ainda jovem aprendiz, recebeu a missão de varrer um jardim. Completou-a com total perfeição, mas ao final, após contemplar aquele jardim perfeitamente limpo, voltou e espalhou ao acaso algumas folhas de cerejeira no local. Conquistou com este gesto o respeito e admiração de seu mestre.

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Características da Estética do wabi-sabi incluem assimetria, aspereza, simplicidade, modéstia, intimidade, rudeza e um processo natural...


Andrew Juniper reflete: "se um objeto ou expressão pode trazer, dentro de nós, um sentimento de melancolia serena e um anseio espiritual, então esse objeto poderia ser dito ser wabi-sabi."

Richard R. Powell resume: "Wabi-Sabi nutre tudo o que é autêntico, ao reconhecer três realidades simples: nada dura, nada está acabado, e nada é perfeito."

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Ao redor do século XIV estes significados começaram a mudar, assumindo conotação mais positiva.

WABI agora é compreendido como simplicidade rústica, frescura, elegância e tranqüilidade, e pode ser aplicada a ambos: seres naturais e objetos feitos.

SABI é beleza ou serenidade que vem com a idade, quando a vida do objeto e sua impermanência são evidenciados em sua pátina e desgaste , Ou em quaisquer reparos visíveis e imperfeições natas.

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A partir da Arquitetura, "wabi" pode ser interpretada como a qualidade imperfeita de qualquer objeto, devido às inevitáveis limitações na concepção e construção.

Na execução se diz especialmente à evolução imprevisível ou condições de utilização; então "sabi" poderia ser interpretado como o aspecto da confiabilidade imperfeita ou de qualquer objeto de limitada mortalidade, daí a ligação com etimológico da palavra japonêsa sabi, a ferrugem.

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Bem, pouco sei da Síndrome de Down, mas vejo-os numa estética Wabi-Sabi, em que nada os diminui, ao contrário, suas "imperfeições" salientam neles qualidades de bondade, sabedoria, inocência e pureza que o perfeccionismo grego perdeu no ideal Clássico.

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Aliam a isso uma alegria presente e um toque de melancolia na atmosfera... há algo de pedra bruta, natural, em suas existências.


A opinião de pessoas que convivem com estes seres impares seria muito mais expressivas pra enriquecer e dar continuidade nestas reflexões.

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Os que vivenciam os Down sabem mais, e enxergam melhor que eu, se esta estética oriental a eles se aplica.


Espero ter conseguido abrir portas a um novo Paradigma.


abraço









7 Comments:

Anonymous Anônimo said...

[b]Bem, pouco sei da Síndrome de Down, mas vejo-os numa estética Wabi-Sabi, em que nada os diminui, ao contrário, suas "imperfeições" salientam neles qualidades de bondade, sabedoria, inocência e pureza que o perfeccionismo grego perdeu no ideal Clássico.[/b]

Compreendi bem agora... E amei suas colocações...

Agora refletindo: Nossa sociedade necessita de uma transformação. Hoje há uma semente eu diria, porém o homem é capaz de reverter o que intencionalmente é bom para um pragmatismo ideológico, quando o grande lance é o contrário.

O que acredito ser o melhor na natureza humana é que somos seres em constante transformação, isto é estamos sempre em construção. E por isso ainda acredito no homem.

A deficiência de alguma forma dá um alerta ao homem sobre isso. Seja ela como for. Quem convive com isso diariamente (posso dizer que sou uma dessas pessoas) percebe o qto isso nos motiva um viver transcendente e em constante modificação.

O homem quando entra em contato com o diferente não sabe como agir... E o mais paradoxo que vejo é que o homem procura o diferente, o homem procura o seu unitário, mas não consegue conceber o outro...

Bem, isso é um caminho que estamos ainda no início...

Parabéns lindo, seu texto está ótimo.

Samarah

sexta-feira, 05 dezembro, 2008  
Blogger Christiane Forcinito Ashlay Silva de Oliveira said...

Oi Betto

Nossa vi este seu texto hoje, acredita?

Você conseguiu sim exprimir um novo paradigma na filosofia estética eu poderia dizer não só como futura filósofa mas também como mãe de duas crianças com deficiência. Bom texto!

Eu, particularmente conheço muito pouco da cultura oriental e estou aprendendo, pois minha filha do meio estuda em uma escola 90% oriental. O que admiro e me identifiquei quando visitei a escola e a escolhi foi a simplicidade, disciplina, a filosofia, organização e a ênfase nos conteúdos.

Transportando isso para o que você escreveu percebo que os orientais sabem bem como transformar o ambiente de acordo com a alma expressa em sua cultura e esta simplicidade natural e inocente de que descreve é uma das qualidades que realmente as crianças com algum tipo de deficiência possui.

Esta estética está de alguma forma enquadrada como algo que ao mesmo tempo ninguém compreende, ou acha estranho a priori, mas que depois em um segundo momento consegue entrar mais a fundo e perceber que esta qualidade de "imperfeição" é que dá um toque original muito especial e único da qual faz esta pessoa ser "singular".

Gostei muito das definições de Richard R. Powell e Andrew Juniper.

Minhas filhas não possuem síndrome de down, porém compreendi o que quis dizer no seu texto e conviver com a deficiência é algo que pode-se dizer e definir sim desta maneira como colocou na "estética Wabi-SABI (侘 寂)".

E concluo refletindo que aos olhos dos outros que não vivenciam isso é algo mais forte ainda, pois as pessoas quando conversam com voc~e possuem um medo de falar a respeito como se fossem te machucar ou mesmo como se você fosse infeliz por isso, acredita? Enquanto eu me acho a "escolhida" kkkkkkkk....

Muitos julgam os outros pelos filtros internos que possuem e por isso não conseguem ver a beleza por onde passam... E por isso não conseguem ser felizes, pois estes não são felizes consigos mesmos.

Abraço.

Chris.

terça-feira, 24 março, 2009  
Blogger Rieko Kishi said...

Olá Beto. Eu sempre imaginei o WABI e
SABI como algo inerente a vida. Uma perfeição porém com certa imperfeição, uma certa tristeza por nao ser perfeita, por ser apenas instância no infinito. A perfeição q é conquistada através do tempo, de experiências, sofrimentos. Uma certa dignidade contida, uma beleza q não é só pureza.
Nunca liguei esse termos a down. Eu convivo com pessoas não só Down mas q possui outras dificuldades tbm. Eu fico comovida ao vê-los sempre tão alegres, solidários, felizes, mesmo não o sendo. O q é perfeição? O q é beleza? O q é certo? O q e errado? A vida é o q é. O mundo é o q é. Cabe a nós o acolhermos como ela é e tentar com q seja de melhor forma vividos com a nossa boa vontade. Com o nosso por q não dizer amor. A nossa humanidade. Será q isso tem a ver com o Wabi e Sabi? Enfim a sabedoria de q nós tanto buscamos e necessitamos?

sábado, 18 abril, 2009  
Blogger Christiane Forcinito Ashlay Silva de Oliveira said...

Rieko e Betto

Linda Rieko, você escreveu: "Eu fico comovida ao vê-los sempre tão alegres, solidários, felizes, mesmo não o sendo."

Como saber se são felizes ou não? Esta visão é apenas sua consegue perceber isso? Duro não? ...

Eu poderia escrever um "Tratado filosófico" sobre isso agora mesmo porque percebo que o sofrimento, a alegria, felicidade depende muito também de como a própria pessoa se vê e assim ela acaba traduzindo tudo a sua volta...

Nietzsche foi um homem singular que me apaixonei(serei eternamente apaixonada por ele inclusive), pois nunca vi um homem ser tão só, incompreendido em sua época e até hoje (perdi amizades por estudar seu pensamento), sofreu com sua doença crônica durante a vida, não foi amado do jeito que amou e pela mulher que amou, não viu o seu sucesso, terminou seus dias sozinho em um manicomio louco com peneumonia e sua mãe e irmã usufruindo de seu dinheiro e mesmo assim ele era capaz de viver sua vida em cada pormenor infinitas vezes intensamente bendizendo e amando este mesmo destino que teve... (É o que ele chamava de eterno retorno) Um homem que apesar de tudo amava a vida de tal forma que tinha uma visão positiva desta mesma... Ele execrava a igualdade (o rebanho) e de uma certa forma amava a imperfeição de tal forma que anunciando a morte de Deus fez da criatura, isto é, nós homens (que segundo o cristianismo que naquela época se dizia imperfeitos)autor de nosso destino e de nossa vontade, da vontade de poder, da transvaloração de todos os valores...

Ainda hoje fui à uma palestra (sou católica praticante) na qual o tema foi Limitações e defeitos e o Padre distinguiu os dois desta maneira:

Limitação podemos definir como uma imperfeição que faz parte da perfeição de Deus e isso é maravilhoso, faz parte da natureza e não há nada de mal, ruim, vergonhoso nisso...

Defeito podemos definir como algo que necessita de reparo não porque faz parte da perfeição de Deus e justamente por não fazer da parte da perfeição de Deus necessita de reparo e este se faz com VONTADE e ESFORÇO...

Agora para Betto tb concluindo afirmo que a definição colocada no texto por Richard R. Powell e Andrew Juniper está bem dentro deste sentimento que vejo no despertar das pessoas quando entram em contato com este universo do "diferente" da "deficiência"

Ainda não entrei em contato com a filosofia estética, em agosto inciaremos, mas meu professor (já sei quem ministrará a disciplina) me indicará antes alguns livros e até conversei com ele (Betto) sobre seu texto um dia desses e sei que se enquadra sim direitinho no que você explanou aqui.

"Rieko, não se assuste hehehehe, eu compreendo, acho que no fundo você nem pensou direito no que escreveu e nem estou julgando... Adoro quando acontece isso pois eu posso pensar mais, criar mais e de maneira nenhuma encare como algo negativo da minha parte. Sou uma pessoa muito tranquila :)

Um beijão! Aos dois. :)

Chris

sábado, 18 abril, 2009  
Blogger Lilly said...

Lembrei-me de Caetano: "É que narciso acha feio o que não é espelho, e a mente apavora ainda o que não é mesmo velho, nada do que não era antes quando não somos mutantes..." Pois é, e ao conhecer, ou seja ao se permitir entar em relação com o outro, o diferente é que podemos notar a beleza... Lindo texto Betto, parabéns! Fico orgulhosa de um arquiteto que quebra paradigmas estéticos no amor, e não na rebeldia delinquente de alguns pseudo-artistas que querem somente chocar. Beijos ;)

domingo, 19 abril, 2009  
Blogger Rieko Kishi said...

Não se preocupe Chris. Não sou de assustar facilmente, se não não teria me postado aqui as minhas opiniões. Qdo escrevi aquilo eu pensei sim e sabia muito bem o q eu estava escrevendo. Mesmo pq eu os conheço de perto e convivo e me alegro sofro junto. Eu apenas quis dizer q apezar de todos eles carregar sérias problemas de limitações, de ter q tomar pesados doses de medicamentos, sofrer discriminações, e muitas vezes ver a morte passar por perto, mesmo assim se doa ao máximo sendo ultil de alguma forma. Qto ao Nitche conheço algumas coisas dele e pensei q católicas praticantes não se combinava com suas idéias, pois ele é nihilista e não acreditava em nada. Contestava de tudo. Que eu saiba os Católicos não gostam de pessoas q contestam, e q tenham idéias diferentes da deles.
Não me importo em não saber discutir sobre filosofias vazias, com palavras vazias, pois tenho a minha filosofia própria, conquistada a duras penas não apenas no meio das páginas de livros.

Bjs
Rieko

domingo, 19 abril, 2009  
Blogger Christiane Forcinito Ashlay Silva de Oliveira said...

Rieko

Que linda! .....

Bom saber que você viu que nem todas católicas praticantes são assim hehehehe... Contestamos sim e nunca me importei com o fato de outros possuirem idéias e visões de mundo diferente da minha, inclusive aprendo "demais" com isso! Adoro a vida e as pessoas independente de religião, cor, raça, etc.

Outra coisa maravilhosa de saber é o fato de você ter sua filosofia própria conquistada a duras penas, puxa, com certeza deve ser uma pessoa que poderia ensinar muitos e eu adoraria um dia poder conhecê-la.

Eu conheci mulheres maravilhosas que me ensinaram muito e que sinto tantas saudades delas... Elas nunca precisaram ler um livro sequer... Inclusive uma delas está com 99 anos e cada encontro ela nos presenteia com uma aula de vida!

Foi um enorme prazer conhecê-la!

Chris.

segunda-feira, 20 abril, 2009  

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