Tempestade
Ontem a manhã estava excessivamente quente. Nas ruas as pessoas passeavam despreocupadas.
De tarde o tempo começou a esfriar e em poucas horas o céu se fechou numa escuridão que lembrava os dias de eclipses da minha infância. Silenciei e parei. Sem caneta nas mãos e pensamentos na alma, observei, escutei, senti, cheirei o ar...
Pela janela do escritório podia ver o mar encapelado, o céu plúmbeo e a neblina de chuva, que encobria em sombras o campanário da antiga igreja. O vento gemia segredos. As folhas não sussurravam como hoje, mas gritavam agitadas. Minha percepção cativa entregava-se num abandono assíduo aos esforços da Natureza. A grandeza nos saudava, sem querer nos servir. Assim como Deus, pensava eu.
Um silêncio imperou fora e dentro.
Como são belos e fortes os ritmos climáticos! Em instantes a tempestade de granizos se desfez e o sol apareceu.
Na volta pra casa os sinais de sua passagem estavam visíveis, como árvores e enormes galhos caídos sobre ruas e calçadas, telhas arrancadas, ruas alagadas, lama, cheiro de grama molhada... pessoas tensas, curiosas e de passos cuidadosos.
A Natureza a si basta, nada deseja, salvo o orgulho de deixar claro que acima da Verdade e da Ciência estão os Deuses, e que a Ciência deveria se curvar ao mistério delicado das flores.
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3 Comments:
Este comentário foi removido pelo autor.
Betto
Sabe o que seu texto me lembrou?
Uma passagem do texto que estudamos hoje em sala do autor chamado Nikos Kazantzáis. O livro chama-se "Ascese - Os Salvadores de Deus" e há um trecho que ele escreve:
" Na ponta dos pés, vou além da mente e chego trêmulo ao sagrado abismo do coração.Um dos pés se apoia no chão firme, o outro na teia as trevas do abismo."
Neste pedaço do texto ele faz uma identificação com Nietzsche e a vida ser uma dança numa passagem do livro "Zaratrusta"
A mente nos diz: "Por que nos preocupamos em perseguir o impossível? Nosso dever é reconhecer no sagrado recinto dos cinco sentido os limites do homem"... E por aí vai.... Você adoraria este texto...
Abraço!
Chris.
Enso,
Nós pensamos q dominamos a natureza.
E nos vemos derrepente,inexoravelmente superior a nós. Que lindo q vc viu a poesia naquela tempestade. Eu estava na rua sem proteção, tentando melhorar da gripe persistente. E a fúria da natureza passou por nós como um golpe de chicote sibilante.
O q nos resta a fazer, se não curvar diante da beleza e da força da Natureza. E admirá-los. Uma vez q a Ciência não passa de um servo.
E qto a nós seres humanos?
bjs
Rieko
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