Exploring the Infinite

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Segredar... é gestar possibilidades!

23.9.09

Tempo concreto e Espaço fluido.

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O grande conflito entre os Nativos Americanos e os colonizadores europeus não foi na questão cultural, mas na visão tempo-espaço.
O europeu, cujas raizes judaicos-cristãs e greco-romanas, tem a particularidade de ver o tempo linearmente.

Próprio das culturas patriarcais, enxergamos sem questionar: o tempo como uma linha, que liga o passado ao futuro através do Presente.
Temos nossas Enciclopédias, nossos livros de História, que atestam vivermos numa sequência de tempo continuo.
E o Espaço, vemos como a materia que nos cerca, os limites concretos e materiais.

Será que essa é a única alternativa de ver a vida que existe?
Um tempo fluindo e um espaço concreto?

Culturas matriarcais, culturas nativas e algumas Orientais, vêem o oposto.
Os Aborígenes australianos, por exemplo, enxergam o tempo como concreto e o espaço como fluido.
Vivem no "tempo de sonhar" ou "no sonhar", que na língua ancestral é Tjukurrtjana.



A percepção material viva do mundo é traduzida como Yuti, que surge da região original do sonho, um estado criativo, fluente da lucidez astral... isso significa " o fundamento absoluto da existência ou a base universal do contínuo do qual se originou toda diferenciação".
Em resumo: O mundo material surge do sonhar fluido: O Espaço Fluido.

O Tempo é o "Tempo de Sonhar", de origem Mítica, o Tempo Sagrado, que vivem junto com seus ancestrais, num tempo curvo, circular, que se repete.
O Tempo Mítico, onde repetem os Mitos, os Arquétipos e daí se direcionam em suas atitudes.
Algo como o Eterno Retorno de Niestzche... o Tempo como concreto.

No Zen, o tempo é concreto: o Agora.
Só existe o Presente, que é eterno... sempre é o Agora, a hora de se iluminar, do Insight, do Samadhi.
O Espaço, não... nada de concretude, fica na fluidez dos gestos, das atitudes, da cerimônia do Chá, na perfeição do Wei Wu Wei, o Agir sem Ação.
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O espaço é plástico, maleável, vc faz o que desejar com ele.

Eu tenho ocasionalmente feito esse exercício meditativo: me sentir no Agora concreto e no Aqui plástico, moldável.
Não sou eu que vou ao trabalho, o referencial sou sempre eu, o centro.
O trabalho não está distante no tempo, mas no espaço,... espaço plástico que transformo, e "trago" o ambiente de trabalho pra mim.

Modifico meu espaço pessoal até transforma-lo no local onde preciso: ele vira a porta de casa, o elevador, o automóvel... eu-centro permaneço tranquilo, observando.
Eu não ando no corredor, mas o corredor é que passa sob os meus pés... eu sou o centro e moldo o espaço pelas minhas ações. Não estou distante da garagem nos minutos, mas na sequencia de ações necessárias para moldar a matéria no carro em que vou sentar.
Não me direciono mais pelo relógio, mas pelo mapa.
Não tenho Agenda, e sim mapas de territórios onde calculo distâncias de modificação do espaço, de mudanças da matéria plástica, do Espaço fluido.

Termino esse tópico com um pequeno conto que ilustra as visões de mundo:

Um Antropólogo estava no meio do deserto do México, com um guia índio tolteca, para estudar as propriedades do cactus Peyote.
Começou a entardecer e o índio parecia não saber voltar pra casa.
Depois de andar por algum tempo, o Americano sentou-se desconsolado e começou a lamentar choroso:
- Meu Deus! Estamos perdidos!!!!
Ao que o índio respondeu:
- Eu não estou perdido! A minha casa é que se perdeu, eu estou aqui!

:D




4.9.09

O Pós–Moderno acabou... Viva a Modernidade Líquida!

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Modernidade implicou em conceitos e ideais em que se delineavam padrões fixos de comportamento, baseados em ciência e capitalismo. Ou, por vezes, socialismo.

O Pós-Moderno viria pra tirar a frieza da ciência e embutir significados e símbolos, ou mesmo para retirar a lógica que justificasse o Modernismo.

E nisso, quando se pensava que nada de novo poderia surgir, Zygmunt Baunman define nosso tempo como “Modernidade Líquida”. Líquida no que tange à perda de concretude, de solidez, dos conceitos definitivos e dos valores absolutos.

Frente a isso, um outro termo usado pelo autor – derretimento – será empregado para designar a desintegração desses discursos sólidos e fixos, já em vias de enferrujamento dos mecanismos institucionalizados.

Agora, nessa nova modernidade maleável, para Bauman, o que vigora é a ascensão de um objetivo individual, em declínio dessas instituições, analogamente, sólidas e tradicionalistas.

O individualismo contrapondo a Era Industrial, lembrando na Arte, começou no movimento de readymade, no Dadaísmo de Duchamp. Pegar um objeto industrializado e personaliza-lo é uma tendência da Modernidade Líquida: a Customização.

Ao realizar seu primeiro "readymade", Marcel Duchamp deu o primeiro passo rumo à polêmica do Dadaísmo. Ao assinar e expor em uma instituição artística um objeto industrial, vulgar, produzido em massa, esse gesto ergueria o tal objeto à categoria de uma obra de arte, ou era um artifício para liquefazer toda e qualquer criação artística ao nível de um objeto comum?
E o que dizer das latas de "sopa Campbell" de Warhol?

Essa mudança do derretimento de parâmetros teria provocado, então, uma quebra dos moldes, das molduras de classe, etnia, linhagem etc., alguns dos já históricos pontos de orientação.

A fusão do Pós-Modernismo já havia mesclado elementos culturais e históricos nas Artes, Arquitetura, música... desconstruindo-os e reconstruindo em uma realidade trans-cultural e trans-temporal.
A Modernidade Líquida apenas ignora a concretude do social, já não estigmatiza o indivíduo, pelo contrário, é do indivíduo que partiria, se chocando com os multifacetados novos padrões, cada vez mais micros, de convívio social e, por isso, com sucinta fluidez, as normas que vão, e estão, se maleando em curtíssimo espaço de tempo.


E como começou esse processo de liquefazer instituições?

Penso eu, e estava conversando isso com uma amiga nestes dias, que o capitalismo e a Era Industrial incentivaram de maneira sutil o derretimento, começando pela família. A família campesina que era um processo estendido, composto de pai, mãe, avós, filhos, irmãos, sobrinhos, cunhados e órfãos... na necessidade capitalista de trabalho industrial e urbano, começou a se pulverizar: os bebês foram pra mandados pras creches, crianças pras escolas, órfãos pros orfanatos, idosos pros asilos, doentes pra hospitais ou manicômios... mulheres receberam direito civil pra votar e trabalhar fora como o homem... a família se liquefez. Foucault que não me deixe mentir sózinho! rss...

Instituições foram desmascaradas em suas bases filosóficas, perderam a credibilidade, bem como a filosofia que as apoiava. Igrejas, Religiões, Partidos Políticos, Ideologias, Instituições milenares... os podres todos aparecendo! A falta de modelos reais e confiáveis deixa os jovens órfãos até de masculino e feminino...

Conceitos estabelecidos como a moral cristã, por exemplo, se tornaram zumbis: mortos-vivos que insistem em andar entre nós, atacando sempre a nossos cérebros... o que mais comeria um zumbi?

A necessidade imposta pela mídia da “novidade”, nossa vida que insiste em viajar cada vez em maior velocidade, seja na infoesfera, seja em transportes... implica em busca pela variabilidade e mudanças.

Então nos tornamos maleáveis e rápidos, nossos padrões são pessoais e líquidos, não seguem concretude de antigos padrões estabelecidos.

Nosso amor é maleável, as relações são líquidas, fluidas, mas buscam profundidades como as águas... às vezes encontram! Em contraste dos casais da concretude, do “felizes para sempre”, “casamento eterno”, os novos relacionamentos se atraem por compartilhar experiências, novidades juntos, vivenciar o momento, em vez de focar na manutenção forçada da relação ad eternum.



E em vez de um relacionamento em linha, entre dois pontos, bidirecionais, nossas vidas começam a criar conexões: relacionamentos em redes, redes reais e virtuais, onde pontos se conectam e desconectam com facilidade, variedades de momentos de contato e silêncios. O que fortalece uma ligação entre dois pontos dessa rede é a manutenção carinhosa por cada ponto, além de saber que a conexão é desejável, mas não indissolúvel.

E de outro lado essa conexão em redes nos permite contactar pessoas interessantíssimas, centenas de Km.s distantes, seres que dificilmente conheceríamos, e com isso aprender e ensinar em verdadeiras trocas, muitas vezes profundas.



Lógico que quando se ganha algo novo, se perde qualidades do antigo. As conexões podem perder a possibilidade de aprofundar relacionamentos, ou de tratá-los com descuido, ou faltar no aprofundamento das relações... tem riscos que se correm ao se lançar inconsciente numa rede.

Tem muito a conversar liquidamente... volto nesse tema em breve.


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